PIELONEFRITE
Pielonefrite é uma doença inflamatória infecciosa causada por bactérias que atingem partes dos rins responsáveis pela produção de urina. Conheça os sintomas e o tratamento.
O sistema urinário é composto por dois rins que filtram o sangue para separar as impurezas que são eliminadas pelas vias urinárias: um ureter de cada lado, a bexiga urinária e a uretra. Cabe a elas transportar as toxinas para fora do corpo.
De algum modo, todos os órgãos do sistema urinário estão correlacionados com a produção, armazenamento e eliminação da urina, líquido estéril, a fim de preservar as concentrações ideais de substâncias químicas e água e, em níveis adequados, a pressão arterial e a temperatura corporal para manter o equilíbrio do organismo.
Pielonefrite é uma doença inflamatória infecciosa, potencialmente grave, causada por bactérias. Ela acomete o parênquima renal, onde se localizam as estruturas funcionais produtoras de urina, e o bacinete (ou pelve renal), porção dilatada do rim, com o formato aproximado de um funil, cuja função é facilitar o fluxo da urina pelos ureteres, a fim de que seja armazenada na bexiga e depois eliminada pela uretra.
A pielonefreite pode ser uma enfermidade aguda ou crônica.
- Na forma aguda, a infecção bacteriana surge de uma hora para outra e compromete o funcionamento dos rins. Embora na maior parte das vezes seja um episódio reversível, se não tratada, pode evoluir para uma doença renal crônica, complicação potencialmente grave.
- Na forma crônica, os rins vão perdendo a capacidade de funcionamento aos poucos, por causa de uma doença subjacente, hipertensão arterial e diabetes tipo 2, por exemplo - ou de infecções agudas repetidas ou mal curadas, que podem levar à falência dos rins.
Causas da pielonefrite: A E.coli (Escherichia coli), bactéria gram-negativa que habita normalmente os intestinos, é responsável por aproximadamente 90% dos casos de pielonefrite. Ela penetra no organismo pela uretra, alcança a bexiga, sobe pelos ureteres e se instala em um ou nos dois rins, comprometendo seu funcionamento. Proteus, Klebsiella, Enterobacter e Pseudomonas são outros agentes infecciosos que podem estar associados aos episódios da doença.
Embora menos comum, a causa da pielonefrite pode ser uma infecção por bactérias gram-positivas, entre elas o Staphylococcus aureus. Proveniente de focos infecciosos em outros órgãos, essa micróbio pode disseminar-se na corrente sanguínea e infectar os rins. É a chamada via hematogênica de transmissão da enfermidade, que pode espalhar a bactéria por todo o organismo provocando sepse, um processo infeccioso bastante grave, conhecido no passado como “infecção generalizada”.
Fatores de risco: O trato urinário é dotado de mecanismos de defesa que impedem a proliferação de germes patogênicos. Além disso, o acesso de micro-organismos às vias urinárias superiores é dificultado pelo fluxo contínuo da urina, que os arrasta para fora do corpo, e pela presença de esfíncteres, espécie de válvulas que se fecham depois que a urina passa rumo ao exterior.
No entanto, mesmo assim, existem algumas condições que aumentam o risco de desenvolver pielonefrite. São elas:
- Anatomia feminina: mais do que os homens, as mulheres estão sujeitas a desenvolver infecções do trato urinário que podem afetar os rins. Isso acontece por causa do tamanho da uretra feminina (3 cm), que é muito mais curta do que a masculina (mede por volta de 12 cm) e está localizada entre a vagina e o ânus, posição que favorece a entrada de micróbios especialmente durante o ato sexual;
- Obstrução no trato urinário: pedra nos rins, gravidez, malformações anatômicas, uso prolongado de cateteres urinários e aumento benigno da próstata são condições que, além de retardar o fluxo da urina e o esvaziamento completo da bexiga, favorecem a proliferação de bactérias que podem alojar-se nos rins;
- Sistema imunológico debilitado: portadores de HIV, hepatite, diabetes, ou que fazem uso de medicamentos imunossupressores podem ter diminuída a capacidade de reagir contra a infecção;
- Refluxo vesicuretral: retorno de pequenas quantidades de urina da bexiga urinária para os ureteres e para os rins durante a micção por mau funcionamento das válvulas existentes no trato urinário. Embora esse refluxo seja mais frequente na infância, pode ocorrer na vida adulta também;
- Diabetes, bexiga neurogênica, rins policísticos e cistites de repetição: essas doenças também atuam como importantes fatores de risco para as infecções do trato urinário.
Sinais e sintomas da pielonefrite: Os sintomas da pielonefrite são semelhantes nas formas aguda e crônica da doença. Vale, porém, registrar algumas diferenças. Na doença aguda, eles não tardam a aparecer. Na crônica, fases assintomáticas se alternam com outras em que as manifestações clínicas surgem somente nos períodos em que a infecção está ativa. Por causa dessa característica da doença, a infecção bacteriana crônica pode provocar lesões irreversíveis nos rins, que evoluem para insuficiência renal grave.
Nos dois casos, porém, os sintomas mais característicos são: febre, calafrios, sudorese, náuseas, vômitos, mal-estar; dor lombar, pélvica, no abdômen e nas costas; urgência e dor (disúria) para urinar, sinal de pus (piúria) e de sangue (hematúria) na urina, que fica turva e com odor desagradável.
Diagnóstico: O diagnóstico da pielonefrite considera o conjunto dos sintomas, especialmente a ocorrência de febre alta, calafrios e dor lombar, assim como o exame clínico do doente. Exames de laboratório, como hemograma completo, urina tipo I e urocultura com antibiograma são úteis para confirmar a presença da infecção, identificar o agente infeccioso e orientar a conduta terapêutica.
Os exames de imagem – tomografia computadorizada, ultrassom e ressonância magnética – ficam reservados para identificar anormalidades estruturais ou anatômicas no sistema urinário que representam risco aumentado de doença renal grave.
É sempre importante estabelecer o diagnóstico diferencial com doenças que podem apresentar sintomas semelhantes aos da pielonefrite. Entre elas, merecem destaque a doença inflamatória pélvica, a colecistite (inflamação da vesícula biliar), a apendicite (inflamação do apêndice vermiforme) e a pancreatite aguda (inflamação do pâncreas).
Tratamento: Pielonefrite tem cura. O tratamento com antibióticos de largo espectro deve começar tão logo seja levantada a hipótese de infecção nos rins. O objetivo é impedir que o agente infeccioso provoque lesões permanentes nesses órgãos ou que espalhe a infecção por todo o corpo, levando à falência de múltiplos órgãos.
Aguardar o resultado do exame de urocultura para identificar o tipo da bactéria e do antibiograma para saber qual o medicamento mais eficaz para combatê-la pode ser arriscado, uma vez que ambos demandam tempo maior para serem concluídos. Apesar da demora, no entanto, eles são exames fundamentais para o tratamento das infecções de repetição ou das resistentes ao tratamento proposto inicialmente.
Para alívio da dor ao urinar (disúria), o ideal é usar analgésicos. Anti-inflamatórios só devem ser utilizados sob orientação médica, porque podem agravar o quadro renal.
Em geral, o tratamento padrão da pielonefrite consiste no uso de antibióticos por via oral por de sete dias, no mínimo. De acordo com as características e a gravidade da infecção, pode ser necessário introduzir a medicação por via endovenosa por até 21 dias. Embora os sintomas costumem desaparecer em pouco tempo, é fundamental obedecer ao esquema prescrito até o fim para evitar a recorrência das infecções ou, então, que as bactérias se tornem resistentes aos antibióticos indicados.
Infecções renais graves, principalmente na infância e nos idosos, podem exigir internação hospitalar para ministrar a medicação por via intravenosa. Portadores de pielonefrite crônica, que leva à perda progressiva e irreversível dos rins, passam a depender de diálise até que seja possível realizar um transplante renal.
Procedimentos cirúrgicos são indicados quando obstruções ou anormalidades estruturais do sistema urinário facilitam a instalação dos processos infecciosos.
Recomendações
- Beba bastante líquido, água de preferência. Além de manter o corpo bem hidratado, líquidos ajudam a eliminar os agentes infecciosos quando a pessoa urina;
- Atenda prontamente a vontade de esvaziar a bexiga. Urina armazenada na bexiga pode transformar-se num foco de infecção;
- Urine logo após a relação sexual, como forma de eliminar as bactérias que por acaso tenham penetrado pela uretra;
- Proceda a higiene local com água. Se for usar papel higiênico depois de urinar ou evacuar, passe-o da frente para trás a fim de evitar que as bactérias do intestino se espalhem pela uretra e bexiga;
- Redobre a atenção se você está grávida. Alterações naturais em seu organismo – mudanças nas características da urina, crescimento acelerado do útero e consequente compressão da bexiga – aumentam a predisposição para as infecções do trata urinário;
ATENÇÃO: Não se automedique nem suspenda o uso da medicação sem antes ouvir o que seu médico tem a dizer.
Fonte: Drauzio Varella